Um dos maiores especialistas em Revolução Francesa desce de sua
cadeira de grande historiador francês para, em sua privacidade e
humanidade inesperada, conversar e explicar a Revolução Francesa
para sua neta. O livro segue na linha de um diálogo com sua neta de
14 anos e que ainda não estudou o assunto na escola. O bom deste
formato está nas interrupções feitas ao longo da explicação de
Vovelle, tornando o entendimento menos rígido e fechado, obrigando o
autor a explicar e dialogar. A proposta da obra é a de produzir algo
como uma haute vulgarisation,
que é a explicação mais simples da história sem deixar de colocar
sua complexidade e profundidade.
Temos ao longo da explicação do
processo da Revolução Francesa uma narrativa que evita limitados
juízos de valor e até mesmo uma lógica mecânica da história. As
duas argumentações fundamentais colocadas neste sentido estão na
dureza da tomada das decisões e da imprecisão do presente. O que
não isenta os horrores cometidos, mas nos ajuda a observá-los e
entende-los sem um julgamento simplesmente passional. Outro está na
colocação de como a crise econômica do período auxiliou para a
explosão da Revolução, mas nos lembrar que nem toda crise gera uma
Revolução, afinal a cada dois ou três anos uma crise se sucede mas
não necessariamente acompanhada de um processo revolucionário. Vale
lembrar aqui o caso da Revolução Iraniana, que ocorreu num país
que vinha crescendo economicamente até em valores per
capita, e mesmo assim viu uma
revolução ocorrer. É uma observação que nos evita interpretar
estes complexos processos revolucionários como motivados por
desencadeamentos mecânicos, previsíveis e fechados. A história é
um estudo do humano, o fascinante da psiquê deste ser vivo é sua
não pequena margem para a imprevisibilidade.
É um livro que pode tranquilamente ser trabalhado com estudantes da
idade da neta de Vovelle em diante, e que apresenta uma leitura
prazerosa. Seu destaque está na capacidade de sintetizar o assunto,
não ignorar sua cronologia, o que honestamente auxilia o
entendimento de um assunto histórico quando o vemos pela primeira
vez, mas não se restringe ao encadeamento de fatos, trazendo
questionamentos, diálogo e a história como algo em aberto. Evita
também simples julgamentos de valor, ao não colocar o rei ou
Robespierre como meros tiranos desvairados – e provavelmente se o
fossem, é discutível até onde isto seria de fato relevante.
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