sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Revolução Francesa explicada à minha neta - Michel Vovelle


Um dos maiores especialistas em Revolução Francesa desce de sua cadeira de grande historiador francês para, em sua privacidade e humanidade inesperada, conversar e explicar a Revolução Francesa para sua neta. O livro segue na linha de um diálogo com sua neta de 14 anos e que ainda não estudou o assunto na escola. O bom deste formato está nas interrupções feitas ao longo da explicação de Vovelle, tornando o entendimento menos rígido e fechado, obrigando o autor a explicar e dialogar. A proposta da obra é a de produzir algo como uma haute vulgarisation, que é a explicação mais simples da história sem deixar de colocar sua complexidade e profundidade.
Temos ao longo da explicação do processo da Revolução Francesa uma narrativa que evita limitados juízos de valor e até mesmo uma lógica mecânica da história. As duas argumentações fundamentais colocadas neste sentido estão na dureza da tomada das decisões e da imprecisão do presente. O que não isenta os horrores cometidos, mas nos ajuda a observá-los e entende-los sem um julgamento simplesmente passional. Outro está na colocação de como a crise econômica do período auxiliou para a explosão da Revolução, mas nos lembrar que nem toda crise gera uma Revolução, afinal a cada dois ou três anos uma crise se sucede mas não necessariamente acompanhada de um processo revolucionário. Vale lembrar aqui o caso da Revolução Iraniana, que ocorreu num país que vinha crescendo economicamente até em valores per capita, e mesmo assim viu uma revolução ocorrer. É uma observação que nos evita interpretar estes complexos processos revolucionários como motivados por desencadeamentos mecânicos, previsíveis e fechados. A história é um estudo do humano, o fascinante da psiquê deste ser vivo é sua não pequena margem para a imprevisibilidade.
É um livro que pode tranquilamente ser trabalhado com estudantes da idade da neta de Vovelle em diante, e que apresenta uma leitura prazerosa. Seu destaque está na capacidade de sintetizar o assunto, não ignorar sua cronologia, o que honestamente auxilia o entendimento de um assunto histórico quando o vemos pela primeira vez, mas não se restringe ao encadeamento de fatos, trazendo questionamentos, diálogo e a história como algo em aberto. Evita também simples julgamentos de valor, ao não colocar o rei ou Robespierre como meros tiranos desvairados – e provavelmente se o fossem, é discutível até onde isto seria de fato relevante. 

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