terça-feira, 6 de maio de 2014

Reflexões sobre o socialismo - Maurício Tragtenberg

   Que a Revolução Russa e suas consequências são algo importante, não restam dúvidas. Os estudos sobre este momento e experiência tão particular merecem sim serem estudados. A União Soviética foi detentora de coisas impressionantes, ainda são o país com o maior quadro de medalhas nas olimpíadas, desenvolveram o setor espacial de maneira impar, conseguiram praticamente erradicar o analfabetismo, além de uma série de outras coisas louváveis como filmes do naipe de Solaris. Porém nada disso apaga o caráter autoritário que acompanhou a existência da URSS. Como bem ilustra Tragtenberg, a URSS acabou buscando um monopólio do que seria o socialismo, caráter perceptível pela sua política do partido único e não socialização dos meios de produção (por sinal, ponto chave do socialismo).
      O livro mantém um caráter de fácil diálogo com o leitor, trazendo dados ainda hoje pouco conhecidos e abordados, seja por socialistas ou não socialistas, e reflexões conclusivas sobre estes episódios, a exemplo do levante de Budapeste, onde os húngaros pediam a pose de novo primeiro ministro, por ser Imre Nagy um verdadeiro socialista; até o caso mais desconhecido do levante de trabalhadores, em sua maioria camponeses, em torno da figura de Nestor Mahkno, que ocorre em paralelo a Revolução Russa, e posteriormente são massacrados pelo exército vermelho ao negarem o julgo soviético. O que temos claro é que a oposição mais atuante contra o regime totalitário vinha de pessoas que acreditavam no socialismo, e não de gente que desejava implantar o capitalismo. Esta dualidade que acaba se fazendo automaticamente, indica ser fruto de parca interpretação do que foi a Guerra Fria. Afinal, os interesses dos dirigentes políticos não são os mesmos das pessoas comuns.
    Tragtenberg chama atenção para o fato de as empresas soviéticas funcionarem por meio de salários, visando criar um competitividade e estar lado a lado com as economias de mercado capitalista, fato que somado ao Estado deter os meios de produção caracterizarem a economia soviética como de capitalismo de Estado.
     O ponto mais positivo do livro é a busca pela quebra de um monopólio da política, trazendo ela para mais próxima do trabalhador, deixando claro que este não depende de partido ou vanguarda política alguma para conduzir suas lutas. Os trabalhadores sabem e tem capacidade para conduzirem suas necessidades e problemas. Deixando claro desta forma que um regime autoritário se mostra sempre autoritário, independente de sua cor ou justificativa. Assim como partido algum irá além da reforma política, quando muito.
     As reflexões de Tragtenberg ocorrem enquanto a união soviética ainda existia e de uma forma ou de outra ainda dominava muito do cenário político, apesar de demonstrar cada vez mais sua decrepitude e clara não resposta aos anseios populares – questões que levaram a seu fim. Dai a necessidade de uma clareza pessoal referente a uma teoria política que pretende dar conta de transformar a realidade capitalista que se vive. E como a autonomia se mostra importante para tudo isto, já que afinal, ninguém precisa dizer as pessoas quais seus problemas e indicar soluções prontas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário