Tudo começa com uma piada onde nos perguntamos, “como assim não é
um cachimbo?”, até podemos tentar olhar atrás do quadro buscando
uma resposta, mas não vamos ver nada mais do que o verso de uma
pintura. O que deve ser analisado está ali na frente e nada mais,
não há nada escondido, pelo contrário, a dica até mesmo é dada
para nos ajudar a entender. Para evitar qualquer dúvida se escreveu
afirmando que aquilo não é um cachimbo. Magritte certa vez declarou
sobre o quadro inquirindo seus inquisidores: “vocês conseguem
encher meu cachimbo de tabaco? Conseguem fumá-lo?”. A resposta é
óbvia, aquilo que de certa forma não têm segredo algum, nada disso
é possível, afinal isto é a representação de um cachimbo, não o
cachimbo em si. Para iniciar a conversa, de certa forma não se diz a
verdade, mas se está longe de mentir.
Se alguém desejasse colocar um ponto final nesta conversa e se
esquivar do assunto diria que a “verdade é relativa para cada
pessoa”, quando o problema é mais profundo. O que torna uma
verdade “a” verdade? Independente de ser para todos ou para um
grupo, por muito tempo ou por pouco? Sabemos que aquilo é um
cachimbo, nossa dúvida se dá na afirmação de que aquilo não é
um cachimbo, mesmo se parecendo com um, não passa de sua
representação, a representação por sua vez não é verdadeira
mais sim verossimilhante. De maneira simples a verdade o é, a
verossimilhança indica ser – ou seja não é, mas tudo indica que
o seja.
Neste sentido a produção da verdade entra neste jogo com a
verossimilhança. Um historiador por exemplo, não consegue recuperar
o passado, por melhor que seja seu trabalho, ele não consegue trazer
o passado à tona, reproduzi-lo, senti-lo, na melhor das hipóteses
tudo que se consegue é riscar um fósforo por vez numa sala escura,
como ilustrou Benjamin, permitindo observar fragmentos e trazer à
tona alguns elementos, nunca o passado inteiro. Não se pode reviver
o passado, na melhor das hipóteses, o que se consegue é espiá-lo.
Dai que neste sentido o historiador não tem como resgatar o passado
no sentido muitas vezes dado a história, o que ele consegue fazer é
a partir de suas evidências formular uma representação de como
pode ter sido aquele passado, ou seja, não se faz literatura, mas
sua produção de verdade se dá pela verossimilhança. Da mesma
forma que a pintura não é um cachimbo mas indica ser um cachimbo,
um historiador através de suas fontes indicará o passado, sem
contudo ser aquilo o passado, é um texto produzido através de um
sério estudo sobre como algo ocorreu, mas não é aquele evento, não
é aquela sensação. Tal qual um relato não é o acontecimento, mas
sim uma representação daquele acontecimento. Quando muito, se lida
com a memória – mas esta também “engana”.
Nada disso é a verdade em sua forma pura (por sinal fica uma dica,
pare de buscar “a" verdade absoluta) mas só por não se-la,
isto não significa ser seu antônimo, temos por isso a
verossimilhança. Se representou de maneira tão convincente, tão
bem elaborada que chegamos a compreender aquilo como a verdade, mesmo
que tal qual o cachimbo, sabemos que não é, que não dá conta do
todo, já que afinal, por mais parecido que seja com um cachimbo, é
impossível enche-lo de tabaco e fumar, por mais parecido com o
passado, não o é. Tudo não passa de uma ilustração de algo que
já não existe mais. Este jogo da verossimilhança não se aplica
unicamente ao conhecimento histórico, mas sim a produção da
verdade onde quer que ela ocorra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário