terça-feira, 17 de abril de 2012

Hiroshima meu amor - Alain Resnais

     É difícil compreender o que fora o fantasma da guerra para a geração que sobreviveu e veio logo depois. Tal trauma me parece um dos pontos chaves de uma série de elementos do pós-guerra, seja a guerra fria, o crescimento econômico ou até mesmo o ano de 1968. Esquecemos que o único ataque nuclear fora realizado pelos EUA nos tristes episódios de Hiroshima e Nagasaki. As cenas iniciais do filme ilustrando o museu da bomba em Hiroshima só reforçam o horror que já supúnhamos. A bicicleta retorcida e as peles queimadas causam espanto. Vendo isto dá para entender porque, na Alemanha dos ano 1980 o pacifismo era tão forte, bombas não são legais, não importa a cor.
     Não sei porque mas constantemente recordava de uma série de escritos de Kawabata, em especial os Contos da palma da mão, onde os anos circundantes a guerra aparecem constantemente. O japonês é um remanescente da população universitária pré-guerra, acostumado a tensa rotina de estudos. E entre tantas coisas para se estudar havia a língua estrangeira, dai seu francês. É um sujeito bem sucedido, como o personagem de Mil Tsurus (também um remanescente universitário do pós-guerra), ambos já bem encaminhados a uma ocidentalização (e conscientes disso). Enquanto a francesa faz a vez da pobre camponesa francesa traumatizada. Revelando uma França ainda muito concentrada no campo, dos quais creio eu que nunca fui ate lá, ainda são parte importante do país.
     O envolvimento de ambos gira sempre em torno de suas memórias, seu passado, e o grande desespero é saberem que mais tarde vão esquecer. O esforço para não esquecer é muito grande. Por isso o museu, os monumentos e até mesmo todo o turismo em torno do ataque atômico. Como pode uma história de amor rodeada pela explosão de uma bomba atômica ser tão bonita? Como quebramos a cara ao sentir compaixão pelo amor de uma francesa pelo soldado nazista? A guerra fora o grande trauma, apesar do esquecimento. E todos os acontecimentos que giram ao redor desta guerra acabam reforçando o pedido para não esquecer, ou para uma aceitação do esquecimento.
     Imagino que ao mesmo tempo que doía esquecer, tal falta de memória se faz necessária para sobreviver, até porque se torna duro viver amargurado. É comum entre as pessoas que passaram por alguma experiência traumática (guerras, campos de concentração...) esquecer e evitar o assunto. No caso de Hiroshima moun amour o difícil é aceitar o esquecimento de algo que fora tão prazeroso. A vontade de não abandonar a cidade com o receio de perder suas memórias. E junto com elas a lembraças de que um dia amou.
     Constantemente o que ronda é o fantasma da bomba, da guerra e do esquecimento. Talvez Resnais faça no meio desta trama um pedido para que não se esqueça, as fotos e a silenciosa passeata parecem pedir por isso. O que é bacana pensar pois se entende segunda guerra até hoje como os bonzinhos contra os malvados nazistas, sendo que toda uma série de atrocidades ficassem esquecidas.
     Mas também não se pode afirmar que o filme condene as pessoas pelo esquecimento, a lamentação delas não parece indicar isto. Talvez o filme seja bom para nos lembrar que esquecemos, mesmo traumas (marcas) tão profundos, coisas que tanto nos fizeram viver ou desejar a morte. O trabalho de lembrar algo é muito complicado, pode ser doloroso, como as lágrimas daquela francesa chorando a morte de seu soldado alemão.


Nenhum comentário:

Postar um comentário