sábado, 7 de janeiro de 2012

Crônica de uma Morte Anunciada - Gabriel García Márquez

         Teorias sobre prever o futuro existem várias. Há o tarô, búzios, astrologia e até mesmo crenças maias maquiadas de ciência (mesmo que isto não existisse para eles). A curiosidade pelo futuro, próximo ou distante, muitas vezes é o motor para nos determos sobre histórias variadas. Alguns filmes e livros parecem perder toda a graça quando já se sabe o final. Mesmo sendo desejoso em não saber o máximo possível antes de tomar contato com algum estória, Crônica de uma morte anunciada te impede de não começar sabendo o final. Na primeira linha, na orelha e no título do livro já sabemos que alguém será assassinado, que Santiago Nasar vai morrer.
        Segundo comenta-se por ai, é preciso mais do que talento para receber um prêmio Nobel, e sem dúvida talento não falta a Gabriel García Márquez, pois conseguiu contar uma história onde se sabe o final desde o princípio. E o cômico é que seu talento é perceptível por isto. Como li uma resposta certa vez, sobre a possibilidade de forças ou elementos que regem a História, dando alguma direção a humanidade; saber que um comboio vai até Orleans não elimina todo o leque de possibilidades das ações que podem ser tomadas pelos passageiros ao longo da viagem¹. Sem dúvida o livro faz isto, nos demonstra que entre o começo e o fim, uma série de elementos e fatos atravessam o momento final.
        Não importa tanto o final da história, que se sabe desde a primeira página, mas sim o desenrolar da narrativa, toda a teia de elementos que conduzem a tal acontecimento. E aqui entendo perfeitamente a histórias sem final de Kaspar Hauser.
        O livro parece tentar nos inserir no mundo colombiano popular. Há algo que me parece comum entre os latinos, especialmente os do novo mundo. A vila descrita no livro me recorda aquelas, que parecem constituir um lugar comum em nosso imaginário: a cidadezinha. Já conhecemos o arquétipo da vila, poucos habitantes, todos sabem quem é quem e tudo o que se passa na vila. Residindo nela há uma família rica de extrema influência e um padre que serve de mediador para os mais variados assuntos. A vida ali apesar de rude, aparenta ser boa. Há uma linda garota que será conquistada por alguém. A vila está presente neste livro de Márquez, em Árido Movie e O Alto da Comparecida, mesmo assim, cada obra busca um objetivo distinto. Suspeito que esta vila pitoresca surja com os românticos alemães em sua busca pelas raízes, pelo essência do Volk.
        Este embrenhar-se no popular parece uma busca pelo real ou pelo verdadeiro, contanto que o narrador da história busca compreender o caso. E para isto não abre mão dos relatos deste povoado, onde cada pessoa viu um fragmento ou sabia de algo relacionado ao fatídico assassinato, nem hesita em buscar os autos jurídicos tratando de tal acontecimento.












¹ “Se é verdade que a providência dirige a História e que a História é uma totalidade, então o plano divino é indiscernível; como totalidade, a História escapa-nos e, como entrecruzamento de séries, é um caos semelhante à agitação de uma grande cidade vista de avião. O historiador não se sente muito ansioso por saber se a agitação em questão tende para alguma direcção, se tem uma lei, se há uma evolução. É demasiado claro, com efeito, que essa lei não será a chave do todo; descobrir que um comboio se dirige para Orleans não resume nem explica tudo o que podem fazer os passageiros no interior das carruagens”. VEYNE, Paul. Como se Escreve a História. Edições 70: Lisboa, p.37.

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