quinta-feira, 31 de março de 2011

A Escola dos Annales: (1929 - 1989) A Revolução Francesa da Historiografia - Peter Burke

Algo que me impressiona é o interesse das pessoas pela História. Basta ir numa banca de revistas para ver quantas revistas existem sobre História. Isso me agrada por vários motivos, entre eles o de que o historiador sempre vai ter emprego, e isso é bom saber quando se está terminando um curso de História. Neste interesse todo pela História várias pessoas me contam que são apenas curiosas e algumas vezes complementam me questionando a respeito de algum bom livro que traga um panorama geral da História. Na maior parte das vezes fico pensando nos livros de “História Geral” onde se conta uma história enorme em tão pouco tempo ou páginas. E quando é um livro muito grosso, sempre é um livro sobre o geral. Com o surgimento da internet onde fatos históricos são encontrados facilmente não vejo muito sentido em se ler tanto estes livros grossos de “História Geral”. Os fatos sozinhos não ajudam em muita coisa, o que é mais interessante é a discussão a respeito daqueles fatos, discussão que realizamos a partir de bases teóricas. Pensando nisto este livro de Peter Burke, renomado historiador inglês casado com uma brasileira, traz um apanhado geral do que temos no momento daquilo que podemos chamar de mais atual no campo teórico da História. Em resumo traz um pouco sobre a Escola dos annales.

Para quem não sabe a escola dos annales não foi uma escola no sentido comum que entendemos a palavra. Foi escola no sentido de uma “linha de pensamento”. Diferente da escola da Bauhaus, nunca teve uma sede física, é em realidade uma revista. Nesta revista dois franceses (Marc Bloch e Lucien Febvre) romperam com a linha tradicional positivista (onde o que importava eram os fatos, em especial os ditos “grandes fatos”) e deram uma forma mais concisa para o que vem a ser um trabalho de História hoje. Lógico que atualmente já passamos por mudanças, e Burke traz os desdobramentos que a annales acabou gerando.

O interessante, e Burke traz isso neste livro, é que a França atualmente é a Meca da História, em especial graças a forte tradição francesa existente após os annales, mas até a consolidação desta escola e do grupo francês, a grande referência era a Alemanha. Leopold von Ranke fora o grande nome da historiografia alemã, sua História era positivista, quer dizer, ele fazia aquela História chata que infelizmente todos conhecemos, fatos, nomes, datas... Em resumo é uma História que não traz análise, ou quando traz não são análises profundas, e em geral sob argumentos moralistas. É colocado que esta mudança não ocorre na historiografia alemã principalmente pela sua forte tradição, que dificulta as mudanças. Foi assim que a França, um país de segunda importância na História vai tomando o lugar de maior importância.

O bom deste livro é o fato dele ser válido tanto para historiadores, quanto para não historiadores. Contanto que é colocado ao final do livro um glossário que traz certos termos específicos da História. Devo contar aqui de que meu contato com a escola dos annales muito me empolgou na época, pois até então meus conceitos a respeito do estudo da História eram um pouco “nublados” e pior do que isto, um tanto quanto amarrados. Gosto de dizer que os annales deram um “sopro de ar fresco” na História. Lembrando de que em geral o livro de Burke trata da historiografia francesa, não desconsideremos que cada país tem sua historiografia, pois lógico, também possuem seus intelectuais.

terça-feira, 1 de março de 2011

THX 1138 - George Lucas (Roteiro e Direção)

Lucas é o famoso diretor e idealizador de guerra nas estrelas. Não quero dar ou tirar mérito algum de guerra nas estrelas pela razão de que vi dois filmes da série cinematográfica quando pequeno e dos meus 11 anos para cá devo considerar que minhas visões e gostos além de uma série de coisas mudaram. Além do detalhe básico de que não lembro muita coisa do que eu assisti.

Porém THX 1138 é um filme fenomenal, lançado em 1970 o filme traz uma carga de atualidade fortíssima e talvez maior do que outras ficções que já li ou assisti (diga-se de passagem o trio clássico formado por: 1984, admirável mundo novo e um pouco menos conhecido talvez; fahrenheit 148). Creio que isto se dá pelo filme trazer a questão econômica de uma forma mais clara do que os citados anteriormente. Se em 1984 e Fahrenheit temos a eliminação dos indivíduos indesejáveis (com certa ressalva para 1984 que primeiro recupera, depois elimina) e Admirável mundo novo que simplesmente isola evitando ao máximo a eliminação, em THX temos um investimento claro em “recuperar” as pessoas. Contanto que a polícia que existe no filme está ali sob o pretexto de ajudar, evitando ao máximo o contato físico direto. Isto me lembrou muito as novas técnicas desenvolvidas, que de certa forma procuram anestesiar, imobilizar, do que interferir pelo uso de força física (e aqui pode-se ler a palavra porrada). Logo quem sabe a polícia estará usando dardos que fazem as pessoas dormirem ou algum bastão que interfere em seus movimentos físicos, porém a ideia complicada de controle está ali.

Talvez a palavra anestesia, ou como eu uso frequentemente; morfina, sejam as palavras certas. Busca-se cortar ao máximo os sentimentos das pessoas, fazendo com que sejam quase robôs. A distribuição de uma ração diária de remédios e a fácil consulta a alguma ajuda por meio do espelho do banheiro faz com que eu lembre diretamente do que temos hoje sendo feito sob o suporte da psicologia (e aqui quero deixar claro que faço generalizações que podem, certamente, em algum momento serem chamadas de absurdas, como creio que toda generalização força muitas vezes), onde não se busca em si resolver o problema que aflige a pessoa, apenas se busca fazer com que ela se conforme com tudo que está a incomodando e se dá para ela alguma droga que a anestesie. Por exemplo, um funcionário está muito estressado em seu trabalho, não se buscará mudar as condições do trabalho dele, ele terá que continuar cumprindo as metas, mesmo que muitas vezes o regime explorador de trabalho ao qual ele é submetido cause uma série de transtornos. Para quê interferir nos lucros se eu posso simplesmente deixar a pessoa anestesiada. Caso algum trabalho cause dor nas pessoas que a realizem, não se buscará a mudança ou anulação daquele trabalho, se dará morfina para que a dor cesse e ele continue a trabalhar. É basicamente a metáfora que costumo utilizar de jogar areia num buraco que temos numa rodovia, não é preciso ser um grande estudioso para entender que isto não irá durar muito tempo e logo precisará jogar areia no buraco novamente. Este jogo do anestesiar para não parar é algo que para mim soa muito atual, e a pouco distancia que nos separa deste filme dá este “quê” de atualidade.

Outro ponto no filme é que se procura inserir este individuo novamente no circulo normal da sociedade instituída enquanto ele for economicamente viável, a partir do momento em que não vale mais a pena ele é deixado por sua conta. Tal qual fazemos com um bem nosso, consertamos o carro mas preferimos comprar um liquidificador novo. Isto me lembra a política que é forte em especial a partir da segunda guerra e mais ainda durante a guerra do Vietnã, onde vale mais recuperar um soldado ferido, do que gastar muito mais na produção de um novo soldado.

O filme é denso, o que por sinal causou seu fracasso de bilheteria, e traz inúmeras questões (outras além das que trabalhei um pouco aqui). A respeito de minhas análises elas são generalizadas e superficiais, como não pretendo gerar textos muitos extensos e profundos, isto muitas vezes ocorre.