quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Noite - Erico Verissimo

Há pouco tempo venho mantendo algum contato com a literatura brasileira e em nada ela me decepciona. Fazia algum tempo em que eu estava curioso para ler Érico Veríssimo, pois quando pequeno lera um pouco de seu filho (as mentiras que os homens contam) e sempre escuto falar sobre clássicos como “O tempo e o vento”. Devido a minhas leituras para a faculdade acabei pegando um texto de Sandra Pesavento onde ela analisava este livro de Veríssimo[1]. Pelo que encontrei sobre o livro e até mesmo na própria parte de traz do livro, Veríssimo irá tentar mostrar a cidade como corruptora, de alguma forma noite neste caso seria uma analogia para com o lado sombrio, ou algo neste sentido ao que tudo indica.

Porém a impressão mais forte que esta novela me deixou foi a de que de alguma forma, o autor tentou demonstrar a vida – no sentido de ação – que ocorre ao longo da noite. Esta impressão se gravou principalmente devido a parte do hospital, pois ali ficam a falar deste caráter que percorre a noite. Apesar de haver algo mais em torno da história do que um sujeito na noite, com certeza este livro traz uma boa gama deste universo noturno. Para mim o caráter corruptor, maligno viria em segundo lugar e devido as impressões causadas em mim pela leitura de críticas.

Apesar de esta vida noturna estar de alguma forma no imaginário, seja por meio da literatura ou cinema, é algo extremamente muito difícil de ser desenhada. Aqui faço uma pausa/mistura com o desafio que se coloca ao menos para mim nas muitas vezes que escrevo, e lendo Kawabata percebi isto de forma mais clara. Sempre que escorrego meus dedos pelo teclado vou me remetendo a sensações e coisas praticamente impossíveis de descrever, aquela sensação única de uma risada numa conversa de bar, por exemplo. Mas como descrever o balanço da barriga, o esticar das bochechas que me parecem buscar as orelhas, o chacoalhar da risada violenta, o som que sai da boca, é difícil levar alguém a compreender o que pretendo dizer quando escrevo – se me permitem o linguajar coloquial.

Vários historiadores da cidade – a exemplo de Pesavento – me parecem tentar descrever estas coisas impossíveis, porém sem usar a mesma escrita que Veríssimo usaria por exemplo. Me perdoem os teóricos, mas muitas vezes não são mais do que delírios acadêmicos/intelectuais, feitos uma página inteira para descrever a dor provocada nos joelhos ao se levantar. E me desculpem novamente alguns historiadores, é aqui que a História se aproxima de alguma forma ou de outra com o romance. Por acaso você já imaginou a cidade medieval? É difícil. Muito mais fácil é imaginar a dos anos 1930-50 (suposto tempo em que se passa a obra), e penso até onde obras como esta não influenciam este nosso imaginário da cidade a noite.

Neste sentido sinto que esta obra de Veríssimo vai fundo neste viver urbano noturno. Não por acaso a história começa quando o dia termina e acaba quando o dia começa. Nas primeiras páginas do livro dá para imaginar a correria das pessoas indo para algum lugar, as famílias reunidas quando ele passa pelo bairro pobre, o bar fervendo de gente, o hospital exalando desespero (creio que eles fazem isso até de dia), e a rua como que ganhando calor e vida ao raiar do sol.

Desta forma inacabada e num texto pouco pensado para ser lido - com prazer - , lhes deixo.



[1] O artigo em questão se encontra no livro: Imagens urbanas :os diversos olhares na formacao do imaginario urbano /Celia Ferraz de Souza, Sandra Jatahy Pesavento organizadoras. -Porto Alegre : Ed. da UFRGS, 1997. - 292p.

Nenhum comentário:

Postar um comentário